Cultura Policial
- psychology4humans
- 17 de out. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de nov. de 2020

O que é a Cultura e a Cultura Policial?
De acordo com John Crank (2004) a cultura constitui-se como o “fazer sentido” coletivo de um determinado grupo social, composto por elementos como:
a) ideias, conhecimentos, crenças e procedimentos (como as coisas devem ser feitas);
b) comportamentos, sinais e rituais;
c) materiais e instrumentos fabricados por humanos – incluindo os media;
d) estruturais sociais e organizacionais;
e) produtos da ação social, como conflitos, que emergem ao longo de encontros interpessoais e intersociais, que podem levar à contínua construção de outros elementos dessa cultura.
Assim, é de realçar que a cultura não pode ser classificada como algo “bom” ou “mau”, mas sim como algo central para a organização da vida dos sujeitos.
Baseado nesta definição de cultura, Crank (2004) define como cultura policial o “fazer sentido” coletivo da comunidade policial. De acordo com ele, esta assenta em cinco grandes temas, que são o resultado da interação entre a polícia e os vários contextos, com as suas próprias regras e procedimentos internos.
A melhor forma de compreender como este fenómeno se mantém é equipará-lo a um ciclo. Este é constituído por diversos fatores, mas que estão interligados entre si, o que permite que cada fator da cadeia reforce o próximo. Desta forma percebemos que não é a influência de um só fator que mantém a cultura policial, mas sim, uma multitude de fatores presos a um ciclo que se autorreforça e se automantém (Green & Ward, 2004; Soares, Barbosa, Matos, & Mendes, 2018).
Como é que a Cultura Policial é percebida pelos polícias e civis?
De acordo com Crank (2004), o comportamento da polícia reflete a interação entre o temperamento do profissional, as circunstâncias da situação e as atitudes dos indivíduos envolvidos. As interações mais comuns entre a polícia e civis é quando alguém liga para um departamento ou um alarme é acionado e a polícia vai até ao local. Crank (2004) descreve estes encontros como um estilo reativo de policiamento e molda de uma forma poderosa a relação polícia-civil. Às vezes a polícia pode ser alvo verbal da frustração dos civis. Já os polícias podem ficar frustrados porque sentem que não podem fazer muito quanto ao crime em si. Assim sendo isto pode levar ao desânimo de ambas as partes. Além disso, em crimes violentos a frustração costuma ser semelhante.
De acordo com o mesmo autor, relativamente a “felony crimes” a interação polícia-civil acaba por ser contaminada pela toxicidade de poder dessa relação. Afrontas relativamente à legitimidade da autoridade policial podem ocorrer. Subsequentemente devido à natureza reativa da intervenção policial, a intervenção destes profissionais só irá ocorrer após o crime ter sido cometido. Isto resulta num ambiente de trabalho emocional, frequentemente hostil e às vezes perigoso, onde se pode tornar complicado distinguir entre vítimas e ofensores, podendo levar a erros de procedimento, identificação e de recolha de provas (Crank, 2004).
O que se pode fazer para mudar?
Como mencionado anteriormente, devido a várias variáveis é complicado mudar uma cultura que já existe e está bem definida. Como por exemplo, as diferentes tentativas de reforma da cultura policial levaram a que os integrantes desta se sentissem atacados, não estando assim, abertos à mudança. De acordo com Crank (2004), o primeiro passo para que possamos mudar e melhorar esta cultura, é entendê-la. Isto significa compreender os temas prevalentes nela e como estes interagem entre si e com os diversos profissionais que se inserem nesta instituição. Só depois de compreendermos o que é, é que podemos começar a planear as mudanças necessárias. Seguem abaixo alguns exemplos fornecidos pela Ana Moreno, que é a nossa colaboradora desta semana!


Bibliografia:
Crank, J. (2004). Understanding Police Culture. Routedge Taylor and Francis Group.
Green, P., & Ward, T. (2004). State Crime: Governments, Violence and Corruption. Pluto Press.
Soares, M., Barbosa, M., Matos, R., & Mendes, S. M. (2018). Public protest and police violence: Moral disengagement and its role in police repression of public demonstrations in Portugal. Peace and Conflict, 24(1), 27–35. https://doi.org/10.1037/pac0000277
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