Comportamento Bystander e Difusão de Responsabilidade
- psychology4humans
- 4 de jul. de 2020
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O que é?
O comportamento bystander ou efeito do espectador consiste no comportamento passivo e de inação dos sujeitos perante situações do dia-a-dia que os desafiem a tomar uma postura proativa e a agir (Wilson-Simmons et. al., 2006).
Entre essas situações podemos encontrar situações de emergência, situações de crise e catástrofe, situações de violência nos diferentes contextos (e.g. escola, casa, vizinhança, locais públicos, etc.), situações de discriminação e exclusão social, ou até mesmo situações mais simples do nosso dia-a-dia, em que o outro precise de algum tipo de ajuda (Fischer et al., 2011).
É curioso perceber que, sendo este um fenómeno social, a presença de outros sujeitos à nossa volta tem um poder e influência crucial no comportamento que adotamos perante essas situações do quotidiano.
Em alguns estudos (Darley & Latané, 1968) verificou-se que o tempo que um sujeito leva a intervir e a procurar ajuda numa situação de emergência varia de acordo com o número de sujeitos presentes no local. Isto significa que a presença dos outros pode ter um impacto negativo no comportamento de ajuda, fazendo com que os sujeitos não intervenham perante situações em que se impera uma postura proativa.
Noutras experiências (Latané & Rodin, 1969) os investigadores descobriram que 70% das pessoas inquiridas reportaram que ajudariam uma mulher em perigo numa situação em que fossem a única testemunha. Por outro lado, apenas 40% das pessoas inquiridas eram capazes de oferecer ajuda quando na presença de outras testemunhas.
Com isto é possível concluir que a nossa tendência comportamental aponta para que, quanto maior o número de pessoas à nossa volta, menor a probabilidade de cada um de nós intervir e ajudar alguém que precisa. Assim, é mais provável que os sujeitos tomem a iniciativa de agir perante uma situação quando existem poucas pessoas ou nenhuma ao nosso redor.
Mas porque é que isto acontece?
Nos estudos levados a cabo nos anos 70 (Latané & Darley, 1970), os investigadores perceberam que existiam alguns fatores, relacionados com atitudes e crenças dos indivíduos, que poderiam estar na origem do comportamento bystander adotado por estes nas diversas situações, entre eles:
1- A Difusão da Responsabilidade: sentir que a nossa responsabilidade perante a situação é partilhada e diluída quando outras pessoas estão presentes (e.g. “não vou ligar para o 112 porque alguém já o deve ter feito”; “não me vou aproximar da situação porque alguém já deve estar a cuidar/intervir sobre a mesma”);
2- O medo de ser avaliado e julgado de forma negativa em público, ou de agir incorretamente;
3- A Ignorância Pluralista: perante uma situação ambígua, os sujeitos baseiam-se nas reações dos outros à sua volta para avaliar se aquela é uma situação de emergência ou não. Muitas vezes, acabam por não agir pois as pessoas à sua volta parecem desvalorizar a situação.
Apesar destes aspetos serem relevantes, importa salientar que na base do comportamento bystander podem também estar outros fatores associados, como questões motivacionais, mecanismos neurológicos ou até traços de personalidade (Hortensius & de Gelder, 2018).
Esta confluência e sinergia destes mecanismos do comportamento social são as principais responsáveis pelo comportamento bystander dos sujeitos (Darley & Latané, 1968; Latané & Darley, 1970 cit. in Fischer et al. 2011).
Como posso contrariar estas tendências comportamentais?
Como vimos até aqui, todos nós podemos ser bystanders. Todos nós já passamos por situações em que nos inibimos de agir ou de ajudar o próximo, e nem sempre isto aconteceu de forma consciente. No entanto, importa sublinhar que os bystanders podem exercer uma influência fulcral sobre a evolução da situação, podendo capacitar os sujeitos/vítimas agindo proactivamente ou, pelo contrário, acentuar o seu sofrimento através do seu comportamento passivo (Staub, 2003).
Mais do que a predisposição natural que reside dentro dos sujeitos para a prática do “bem” e do “mal" (e.g. Staub, 2003; Staub, 2014; Zimbardo, 2004; Zimbardo, 2007), os fatores situacionais são os que exercem mais poder sobre estas questões, e, portanto, as ações humanas podem surgir como resultado dessas influências no seu comportamento (Zimbardo, 2012).
Embora seja evidente a capacidade de o ser humano ser influenciado pelo poder das situações e dos contextos, estes possuem igualmente a capacidade para adotarem perspetivas mais positivas, que visem um maior envolvimento em comportamentos altruístas, heroicos e prossociais (Staub, 2003).
Estes aspetos levam-nos a refletir sobre o papel fulcral que todos nós temos, enquanto cidadãos, como potenciadores da paz, considerando que podemos optar por adotar comportamentos mais prossociais em relação às diversas situações ou, pelo contrário, uma postura passiva e de indiferença, caracterizada pelo comportamento bystander.
O poder está nas nossas mãos, e o primeiro passo para isso é tornarmo-nos conscientes sobre a ocorrência destes fenómenos, e tentarmos contrariar esta tendência comportamental no nosso dia-a-dia.
Bibliografia:
Hortensius, R., & de Gelder, B. (2018). From empathy to apathy: The bystander effect revisited. Current directions in psychological science, 27(4), 249-256.
Darley, J.M., & Latané, B. (1968). Bystander intervention in emergencies: Diffusion of responsibility. Journal of Personality and Social Psychology, 8(4p1), 377-83.
Staub, E. (2003). The Psychology of Good and Evil: Why Childreen, Adults, and Groups Help and Harm Others (1st ed.). Cambridge University Press.
Zimbardo, P. (2004). A Situationist Perspective on the Psychology of Evil: Understanding How Good People Are Transformed to Perpetrators. In A.G.Miller, The Social Psychology of Good and Evil (pp. 21-50). The Guilford Press.
Zimbardo, P. G. (2007). The Lucifer Effect: How Good People Turn Evil. Rider Books.
Wilson-Simmons, R., Dash, K., Tehranifar, P., O'donnell, L., & Stueve, A. (2006). What can student bystanders do to prevent school violence? Perceptions of students and school staff. Journal of school violence, 5(1), 43-62.
Staub, E. (2014). Obeying, joining, following, resisting, and other processes in the Milgram studies, and in the holocaust and other genocides: Situations, personality, and bystanders. Journal of Social Issues, 70(3), 501–514.
Fischer, P., Krueger, J. I., Greitemeyer, T., Vogrincic, C., Kastenmüller, A., Frey, D., … Kainbacher, M. (2011). The bystander-effect: A meta-analytic review on bystander intervention in dangerous and non-dangerous emergencies. Psychological Bulletin, 137(4), 517–537. https://doi.org/10.1037/a0023304
Latané, B., & Rodin, J. (1969). A lady in distress: Inhibiting effects of friends and strangers on bystander intervention. Journal of Experimental Social Psychology, 5(2), 189–202. https://doi.org/10.1016/0022-1031(69)90046-8
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